FUNDAÇÃO PAULISTANA DE EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA
ESCOLA TÉCNICA DE SAÚDE PÚBLICA PROFESSOR
MAKIGUTI
APOSTILA DE PSICOLOGIA
SÃO PAULO
2012
A CIENTIFICIDADE DA PSICOLOGIA
Psicologia do senso comum
Quantas
vezes, no nosso dia-a-dia, ouvimos o termo psicologia?
Qualquer
um entende um pouco dela. Poderíamos até mesmo dizer que “de psicólogo e de
louco todo mundo tem um pouco”. O dito popular não é bem este (“de médico e de
louco todo mundo tem um pouco”), mas parece servir aqui perfeitamente. As
pessoas em geral têm a “sua psicologia”.
Usamos
o termo psicologia, no nosso cotidiano, com vários sentidos. Por exemplo,
quando falamos do poder de persuasão do vendedor, dizemos que ele usa de
“psicologia” para vender seu produto; quando nos referimos à jovem estudante
que usa seu poder de sedução para atrair o rapaz, falamos que ela usa de
“psicologia”; e quando procuramos aquele amigo, que está sempre disposto a
ouvir nossos problemas, dizemos que ele tem “psicologia” para entender as
pessoas.
Será
essa a psicologia dos psicólogos? Certamente não. Essa psicologia, usada no
cotidiano pelas pessoas em geral, é denominada de psicologia do senso comum.
Mas nem por isso deixa de ser uma psicologia. O que estamos querendo dizer é
que as pessoas, normalmente, têm um domínio, mesmo que pequeno e superficial,
do conhecimento acumulado pela Psicologia científica, o que lhes permite
explicar ou compreender seus problemas cotidianos de um ponto de vista
psicológico.
Psicologia
Científica
A
ciência tem uma característica fundamental: ela aspira à objetividade. Suas
conclusões devem ser passíveis de verificação e isentas de emoção, para, assim,
tornarem-se válidas para todos.
Objeto
específico, linguagem rigorosa, métodos e técnicas específicas, processo
cumulativo do conhecimento, objetividade fazem da ciência uma forma de
conhecimento que supera em muito o conhecimento espontâneo do senso
comum. Esse conjunto de características é o que permite que denominemos científico
a um conjunto de conhecimentos.
Diversidade de
objetos da Psicologia
A
diversidade de objetos da Psicologia é explicada pelo fato de este campo do
conhecimento ter-se constituído como área do conhecimento científico só muito
recentemente (final do século 19), a despeito de existir há muito tempo na
Filosofia enquanto preocupação humana.
Esse
fato é importante, já que a ciência se caracteriza pela exatidão de sua
construção teórica, e, quando uma ciência é muito nova, ela não teve tempo
ainda de apresentar teorias acabadas e definitivas, que permitam determinar com
maior precisão seu objeto de estudo.
O
objeto da Psicologia deveria ser aquele que reunisse condições de aglutinar uma
ampla variedade de fenômenos psicológicos. Ao estabelecer o padrão de
descrição, medida, controle e interpretação, o psicólogo está também
estabelecendo um determinado critério de seleção dos fenômenos psicológicos e
assim definindo um objeto.
Esta
situação leva-nos a questionar a caracterização da Psicologia como ciência e a
postular que no momento não existe uma psicologia, mas Ciências psicológicas
embrionárias e em desenvolvimento.
A Subjetividade como
objeto da Psicologia
Considerando
toda essa dificuldade na conceituação única do objeto de estudo da Psicologia,
optamos por apresentar uma definição que lhe sirva como referência para os
próximos capítulos, uma vez que você irá se deparar com diversos enfoques que
trazem definições específicas desse objeto, (o comportamento, o inconsciente, a
consciência etc.).
A
identidade da Psicologia é o que a diferencia dos demais ramos das ciências
humanas, e pode ser obtida considerando-se que cada um desses ramos enfoca o
homem de maneira particular. Assim, cada especialidade — a Economia, a
Política, a História etc. — trabalha essa matéria-prima de maneira particular,
construindo conhecimentos distintos e específicos a respeito dela. A Psicologia
colabora com o estudo da subjetividade: é essa a sua forma particular,
específica de contribuição para a compreensão da totalidade da vida humana.
Nossa
matéria-prima, portanto, é o homem em todas as suas expressões, as visíveis
(nosso comportamento) e as invisíveis (nossos sentimentos), as singulares
(porque somos o que somos) e as genéricas (porque somos todos assim) — é o
homem-corpo, homem-pensamento, homem-afeto, homem-ação e tudo isso está
sintetizado no termo subjetividade.
A
subjetividade é a síntese singular e individual que cada um de nós vai
constituindo conforme vamos nos desenvolvendo e vivenciando as experiências da
vida social e cultural; é uma síntese que nos identifica, de um lado, por ser
única, e nos iguala, de outro lado, na medida em que os elementos que a
constituem são experienciados no campo comum da objetividade social. Esta
síntese — a subjetividade — é o mundo de idéias, significados e emoções construído
internamente pelo sujeito a partir de suas relações sociais, de suas vivências
e de sua constituição biológica; é, também, fonte de suas manifestações
afetivas e comportamentais.
O
mundo social e cultural, conforme vai sendo experienciado por nós, possibilita-nos
a construção de um mundo interior. São diversos fatores que se combinam e nos
levam a uma vivência muito particular. Nós atribuímos sentido a essas
experiências e vamos nos constituindo a cada dia.
A
subjetividade é a maneira de sentir, pensar, fantasiar, sonhar, amar e fazer de
cada um. É o que constitui o nosso modo de ser: sou filho de japoneses e
militante de um grupo ecológico, detesto Matemática, adoro samba e black
music, pratico ioga, tenho vontade mas não consigo ter uma namorada. Meu
melhor amigo é filho de descendentes de italianos, primeiro aluno da classe em
Matemática, trabalha e estuda, é corinthiano fanático, adora comer sushi e
navegar pela Internet. Ou seja, cada qual é o que é: sua singularidade.
Entretanto,
a síntese que a subjetividade representa não é inata ao indivíduo. Ele a
constrói aos poucos, apropriando-se do material do mundo social e cultural, e
faz isso ao mesmo tempo em que atua sobre este mundo, ou seja, é ativo na sua
construção. Criando e transformando o mundo (externo), o homem constrói e
transforma a si próprio.
Um
mundo objetivo, em movimento, porque seres humanos o movimentam permanentemente
com suas intervenções; um mundo subjetivo em movimento porque os indivíduos
estão permanentemente se apropriando de novas matérias-primas para constituírem
suas subjetividades.
De
um certo modo, podemos dizer que a subjetividade não só é fabricada, produzida,
moldada, mas também é automoldável, ou seja, o homem pode promover novas formas
de subjetividade, recusando-se ao assujeitamento e à perda de memória imposta
pela fugacidade da informação; recusando a massificação que exclui e
estigmatiza o diferente, a aceitação social condicionada ao consumo, a medicalização
do sofrimento. Nesse sentido, retomamos a utopia que cada homem pode participar
na construção do seu destino e de sua coletividade.
Por
fim, podemos dizer que estudar a subjetividade, nos tempos atuais, é tentar compreender
a produção de novos modos de ser, isto é, as subjetividades emergentes, cuja fabricação
é social e histórica. O estudo dessas novas subjetividades vai desvendando as relações
do cultural, do político, do econômico e do histórico na produção do mais
íntimo e do mais observável no homem — aquilo que o captura, submete-o ou
mobiliza-o para pensar e agir sobre os efeitos das formas de submissão da
subjetividade (como dizia o filósofo francês Michel Foucault)
O
movimento e a transformação são os elementos básicos de toda essa
história. E aproveitamos para citar Guimarães Rosa, que em “Grande Sertão:
Veredas”, consegue expressar, de modo muito adequado e rico, o que aqui
vale a pena registrar:
“O importante e bonito do mundo é isso: que as pessoas
não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas, mas que elas vão sempre
mudando. Afinam e desafinam”.
Convidamos
você a refletir um pouco sobre esse pensamento de Guimarães Rosa. As pessoas
não estão sempre iguais. Ainda não foram terminadas. Na verdade, as pessoas
nunca serão terminadas, pois estarão sempre se modificando. Mas por quê? Como?
Simplesmente porque a subjetividade — este mundo interno construído pelo homem como
síntese de suas determinações — não cessará de se modificar, pois as
experiências sempre trarão novos elementos para renová-la.
Talvez
você esteja pensando: mas eu acho que sou o que sempre fui — eu não me
modifico! Por acompanhar de perto suas próprias transformações (não poderia ser
diferente!), você pode não percebê-las e ter a impressão de ser como sempre
foi. Você é o construtor da sua transformação (veja capítulo 13) e, por isso,
ela pode passar despercebida, fazendo-o pensar que não se transformou. Mas você
cresceu, mudou de corpo, de vontades, de gostos, de amigos, de atividades,
afinou e desafinou, enfim, tudo em sua vida muda e, com ela, suas vivências
subjetivas, seu conteúdo psicológico, sua subjetividade. Isso acontece com
todos nós.
Bem,
esperamos que você já tenha uma noção do que seja subjetividade e possamos,
então, voltar a nossa discussão sobre o objeto da Psicologia.
A
Psicologia, como já dissemos anteriormente, é um ramo das Ciências Humanas e a
sua identidade, isto é, aquilo que a diferencia, pode ser obtida
considerando-se que cada um desses ramos enfoca de maneira particular o objeto
homem, construindo conhecimentos distintos e específicos a respeito dele. Assim,
com o estudo da subjetividade, a Psicologia contribui para a compreensão da
totalidade da vida humana.
É
claro que a forma de se abordar a subjetividade, e mesmo a forma de concebê-la,
dependerá da concepção de homem adotada pelas diferentes escolas psicológicas.
No momento, pelo pouco desenvolvimento da Psicologia, essas escolas acabam formulando
um conhecimento fragmentário de uma única e mesma totalidade — o ser humano: o
seu mundo interno e as suas manifestações. A superação do atual impasse levará a
uma Psicologia que enquadre esse homem como ser concreto e multideterminado.
Esse é o papel de uma ciência crítica, da compreensão, da comunicação e do
encontro do homem com o mundo em que vive, já que o homem que compreende a
História (o mundo externo) também compreende a si mesmo (sua subjetividade), e
o homem que compreende a si mesmo pode compreender o engendramento do mundo e
criar novas rotas e utopias.
Algumas
correntes da Psicologia consideram-na pertencente ao campo das Ciências do
Comportamento e, outras, das Ciências Sociais.
Acreditamos que o
campo das Ciências Humanas é mais abrangente e
condizente com a
nossa proposta, que vincula a Psicologia à História, à
Antropologia, à Economia
etc.
É
em meados do século 19 que os problemas e temas da Psicologia, até então
estudados exclusivamente pelos filósofos, passam a ser, também, investigados
pela Fisiologia e pela Neurofisiologia em particular. Os avanços que atingiram
também essa área levaram à formulação de teorias sobre o sistema nervoso
central, demonstrando que o pensamento, as percepções e os sentimentos humanos
eram produtos desse sistema.
Para
se conhecer o psiquismo humano passa a ser necessário compreender os mecanismos
e o funcionamento da máquina de pensar do homem — seu cérebro. Assim, a
Psicologia começa a trilhar os caminhos da Fisiologia, Neuroanatomia e
Neurofisiologia.
Contribuição
muito importante nesses primórdios da Psicologia científica é a de Wilhelm
Wundt (1832-1926). Wundt cria na Universidade de Leipzig, na Alemanha, o primeiro
laboratório para realizar experimentos na área de Psicofisiologia. Por esse
fato e por sua extensa produção teórica na área, ele é considerado o pai da
Psicologia moderna ou científica.
O
berço da Psicologia moderna foi a Alemanha do final do século 19. Seguiram para
aquele país muitos estudiosos dessa nova ciência, como o inglês Edward B.
Titchner e o americano William James. Seu status de ciência é obtido à
medida que se “liberta” da Filosofia, que marcou sua história até aqui, e atrai
novos estudiosos e pesquisadores, que, sob os novos padrões de produção de conhecimento,
passam a:
• definir seu objeto
de estudo (o comportamento, a vida psíquica, a consciência);
• delimitar seu campo
de estudo, diferenciando-o de outras áreas de conhecimento, como a Filosofia e
a Fisiologia;
• formular métodos de
estudo desse objeto;
• formular teorias
enquanto um corpo consistente de conhecimentos na área.
Essas teorias devem
obedecer aos critérios básicos da metodologia científica, isto é, deve-se
buscar a neutralidade do conhecimento científico, os dados devem ser passíveis
de comprovação, e o conhecimento deve ser cumulativo e servir de ponto de
partida para outros experimentos e pesquisas na área.
As principais teorias da Psicologia no século 20
A
Psicologia enquanto um ramo da Filosofia estudava a alma. A Psicologia
científica nasce quando, de acordo com os padrões de ciência do século 19,
Wundt preconiza a Psicologia “sem alma”. O conhecimento tido como científico
passa então a ser aquele produzido em laboratórios, com o uso de instrumentos
de observação e medição. Se antes a Psicologia estava subordinada à Filosofia,
a partir daquele século ela passa a ligar-se a especialidades da Medicina, que
assumira, antes da Psicologia, o método de investigação das ciências naturais
como critério rigoroso de construção do conhecimento.
Essa
Psicologia científica, que se constituiu de três escolas —
Associacionismo,
Estruturalismo e Funcionalismo —, foi substituída, no século 20, por novas
teorias.
As
três mais importantes tendências teóricas da Psicologia neste século são
consideradas por inúmeros autores como sendo o Behaviorismo ou Teoria
(S-R) (do inglês Stimuli-Respond — Estímulo- Resposta), a Gestalt
e a Psicanálise.
• O Behaviorismo, que
nasce com Watson e tem um desenvolvimento grande nos Estados Unidos, em função
de suas aplicações práticas, tornou-se importante por ter definido o fato
psicológico, de modo concreto, a partir da noção de comportamento (behavior).
• A Gestalt, que
tem seu berço na Europa, surge como uma negação da fragmentação das ações e
processos humanos, realizada pelas tendências da Psicologia científica do
século 19, postulando a necessidade de se compreender o homem como uma
totalidade. A Gestalt é a tendência teórica mais ligada à Filosofia.
• A Psicanálise, que
nasce com Freud, na Áustria, a partir da prática médica, recupera para a
Psicologia a importância da afetividade e postula o inconsciente como objeto de
estudo, quebrando a tradição da Psicologia como ciência da consciência e da
razão.
SAÚDE
MENTAL
Estou de acordo que um esquizofrênico é um
esquizofrênico,
mas uma coisa é importante: ele é um homem e tem
necessidade de
afeto, de dinheiro e de trabalho; é um homem total e
nós devemos
responder não à sua esquizofrenia mas ao seu ser social
e político.
Franco Basaglia
O sofrimento psíquico
Em
muitos momentos de sua vida uma pessoa pode viver situações difíceis e de
sofrimento tão intenso, que pensa que algo vai arrebentar dentro de si, que não
vai suportar, que vai perder o controle sobre si mesma... que vai enlouquecer.
Isto pode ocorrer quando se perde alguém muito próximo e querido, em situações
altamente estressantes, em que o indivíduo se vê com muitas dúvidas e não percebe
a possibilidade de pedir ajuda e/ou resolver sozinho tal situação.
A
pessoa, então, busca a superação desse sofrimento, o restabelecimento de sua
organização pessoal e de seu equilíbrio, isto é, o retorno às condições
anteriores de rotina de sua vida, em que não tinha insônia, não chorava a toda
hora, não tinha os medos que agora tem, por exemplo. Embora o sofrimento seja
intenso, não é possível falar de doença nessas situações. É necessário ter
muito cuidado para não patologizar o sofrimento. Situações como essas, todos
nós podemos vivê-las em algum momento da vida e, nessas circunstâncias, o
indivíduo necessita de apoio de seus grupos (a família, o trabalho, os amigos),
isto é, que estes grupos sejam “continentes” de seu sofrimento e de suas dificuldades
e que não o excluam, não o discriminem, tornando ainda mais difícil o momento
que vive.
Além
do apoio do grupo, o indivíduo pode necessitar de uma ajuda psicoterápica, no
sentido de suporte e facilitação da compreensão dos conteúdos internos que lhe causam
o transtorno, o que poderá levá-lo a uma reorganização pessoal quanto a
valores, projetos de vida, a aprender a conviver com perdas, frustrações e a
descobrir outras fontes de gratificação na sua relação com o mundo.
Neste
modo de relatar e compreender o sofrimento psíquico, fica claro que o critério
de avaliação é o próprio indivíduo e seu mal-estar psicológico, isto é, ele em
relação a si próprio e à sua estrutura psicológica, e não o critério de
adaptação ou desadaptação social.
Esse
indivíduo que sofre pode estar perfeitamente adaptado, continuar respondendo a
todas as expectativas sociais e cumprir todas as suas responsabilidades. Ao
mesmo tempo, pode-se encontrar um outro indivíduo, que, mesmo sendo considerado
socialmente desadaptado, excêntrico, diferente, não vivencia, neste momento de
sua vida, nenhum sofrimento ou mal-estar relevante. O indivíduo consegue lidar
com suas aflições intensas encontrando modos de produção que canalizam este
mal-estar de forma produtiva e criativa.
Assim,
embora o sofrimento psicológico possa levar à desadaptação social e esta possa
determinar uma ordem de distúrbio psíquico, não se pode, sempre, estabelecer
uma relação de causa e efeito entre ambos. Isto torna questionável a utilização
exclusiva de critérios de adequação social para a avaliação psicológica do
indivíduo enquanto normal ou doente.
Abordar
a questão da doença mental, neste enfoque psicológico, significa considerá-la
como produto da interação das condições de vida social com a trajetória
específica do indivíduo (sua família, os demais grupos e as experiências significativas)
e sua estrutura psíquica. As condições externas — poluição sonora e visual
intensas, condições de trabalho estressantes, trânsito caótico, índices de
criminalidade, excesso de apelo ao consumo, perda de um ente muito querido etc.
— devem ser entendidas como determinantes ou desencadeadoras da doença mental ou
propiciadoras e promotoras da saúde mental, isto é, da possibilidade de
realização pessoal do indivíduo em todos os aspectos de sua capacidade.
A diversidade de teorias sobre a loucura: poucas certezas
O
indivíduo apresenta um sintoma ou vários: ele vê o diabo; tem um medo intenso
de sair de casa ou de ir da sala para o banheiro sozinho; não consegue dormir à
noite; não articula com lógica um raciocínio sobre determinado assunto; tem
intermináveis monólogos com figuras ou objetos imaginários, utilizando frases
desconexas; ouve vozes que o aconselham e o apavoram; ora está extremamente
eufórico e, no momento seguinte, fica muito deprimido e se recusa ao contato
com os outros.
Esses
sintomas podem ser agrupados de diferentes formas, sendo identificados em
quadros clínicos que recebem um nome, por exemplo, neurose, anorexia, distúrbio
obsessivo compulsivo, psicose, síndrome do pânico, psicastenia etc. Sempre foi
assim? Não.
Um breve olhar sobre a
história da loucura[1]
O
filósofo francês Michel Foucault (1926-1984) deu uma valiosa contribuição para
compreendermos a constituição histórica do conceito de doença mental. Sua
pesquisa baseou-se em documentos (discursos) encontrados em arquivos de prisões,
hospitais e hospícios. Na periodização histórica que utiliza, o autor inicia
seu trabalho pelo Renascimento (século 16), período no qual o louco vivia
“solto, errante, expulso das cidades, entregue aos peregrinos e navegantes”. O
louco era visto como “tendo um saber esotérico sobre os homens e o mundo, um
saber cósmico que revela verdades secretas”. Nessa época, a loucura significava
“ignorância, ilusão, desregramento de conduta, desvio moral, pois o louco toma
o erro como verdade, a mentira como realidade”. Neste último sentido, a loucura
passaria a ser vista como oposição à razão, esta entendida como instância de
verdade e moralidade. Na Idade Média e no Renascimento, eram raros os casos de internação
de loucos em hospitais e, quando isso ocorria, recebiam o mesmo tratamento
dispensado aos demais doentes, com sangrias, purgações, ventosas, banhos.
Na
Época Clássica (séculos 17 e 18), os critérios para definir a loucura ainda não
eram médicos — a designação de louco não dependia de uma ciência médica. Esta
designação era atribuída à percepção que instituições como a igreja, a justiça
e a família tinham do indivíduo e os critérios referiam-se à transgressão da
lei e da moralidade.
No
final do século 17 (1656), foi criado, em Paris, o Hospital Geral. Neste hospital,
iniciou-se “a grande internação”. A população internada era heterogênea, embora
pudesse ser agrupada em quatro grandes categorias: os devassos (doentes
venéreos), os feiticeiros (profanadores), os libertinos e os loucos.
O
Hospital Geral não era uma instituição médica, mas assistencial. Não havia
tratamento. Os loucos não eram vistos como doentes e, por isso, integravam um conjunto composto por
todos os segregados da sociedade. O critério de exclusão baseava-se na
inadequação do louco à vida social.
Neste
período, buscava-se construir um conhecimento médico sobre a loucura, contudo,
a medicina da época — que tinha como modelo a história natural e o seu método
classificatório (a descrição e a taxionomia da estrutura visível das plantas e
animais eram feitas com a finalidade de estabelecer semelhanças e diferenças) —
não conseguia abarcar a complexidade de manifestações da loucura.
Na
segunda metade do século 18, iniciaram-se reflexões médicas e filosóficas que
situavam a loucura como algo que ocorria no interior do próprio homem, como
perda da natureza própria do homem, como alienação. Segundo a periodização
histórica proposta por Foucault, nesse período (final do século 18 e início 19)
já estaríamos na Modernidade. Criou-se, então, a primeira instituição destinada
exclusivamente à reclusão dos loucos: o asilo. A mentalidade da época
considerava injusto para com os demais presos a convivência com os loucos.
Os
métodos terapêuticos utilizados no asilo eram: a religião, o medo, a culpa, o
trabalho, a vigilância, o julgamento. O médico passou a assumir o papel de
autoridade máxima. A ação da Psiquiatria era moral e social; isto é, sua função
estava voltada para a normatização do louco, agora concebido como capaz de se
recuperar.
Inicia-se
a medicalização. A cura da doença mental — o novo estatuto da loucura —
ocorreria a partir de uma liberdade vigiada e no isolamento. Estava preparado o
caminho para o surgimento da Psiquiatria.
A Psiquiatria
clássica
A
Psiquiatria clássica considera os sintomas como sinal de um distúrbio orgânico.
Isto é, doença mental é igual a doença cerebral. Sua origem é endógena, dentro
do organismo, e refere-se a alguma lesão de natureza anatômica ou distúrbio
fisiológico cerebral. Fala-se, mesmo, na química da loucura, e inúmeras pesquisas
nesse sentido estão em andamento. Nessa abordagem, algum distúrbio ou anomalia
da estrutura ou funcionamento cerebral leva a distúrbios do comportamento, da afetividade,
do pensamento etc. O sintoma apóia-se e tem sua origem no orgânico. Nesse sentido,
existem mapas cerebrais que localizam em cada área cerebral funções sensoriais,
motoras, afetivas, de intelecção.
Nessa
abordagem da doença, os quadros patológicos são exaustivamente descritos no
sentido de quais distúrbios podem apresentar. Por exemplo, a psicastenia é
caracterizada por esgotamento nervoso, com traços de fadiga mental, impotência
diante do esforço, inserção difícil no real, cefaléias, distúrbios
gastrointestinais, inquietude, tristeza. E, finalmente, se a doença mental é
simplesmente uma doença orgânica, ela será tratada cora medicamentos e produtos
químicos. Ao lado da medicação, devemos lembrar que ainda são usados os eletrochoques,
os choques insulínicos e, em casos mais graves, o internamento psiquiátrico,
para uma administração controlada e intensiva de medicamentos.
A contribuição da
Psicanálise
Não
é possível discutir a questão da normalidade e da patologia sem retomar as
contribuições de Freud para a questão. Para a Psicanálise, o que distingue o
normal do anormal é uma questão grau e não de natureza, isto é,
nos indivíduos “normais” e nos “anormais” existem as mesmas estruturas de
personalidade e de conteúdos, que, se mais, ou menos, “ativadas”, são
responsáveis pelos distúrbios no indivíduo. Essas são as estruturas neuróticas
e psicóticas. Freud tomou a terminologia da Psiquiatria clássica do século 19 e
definiu os quadros clínicos assim:
Neurose
— “os sintomas (distúrbios do comportamento, das idéias ou dos sentimentos) são
a expressão simbólica de um conflito psíquico que tem suas raízes na história
infantil do indivíduo”[2].
As
neuroses podem ser subdivididas em:
• Neurose
obsessiva — esse tipo de conflito psíquico leva a comportamentos
compulsivos (por exemplo, lavar a mão com freqüência não usual); ter idéias
obsedantes, por exemplo, de que alguém pode estar perseguindo-o e, ao mesmo
tempo, ocorre uma luta contra esses pensamentos e dúvidas quanto ao que faz ou
fez.
• Neurose fóbica
ou histeria de angústia — a angústia é fixada, de modo mais ou menos
estável, num objeto exterior, isto é, o sintoma central é a fobia, o medo. Medo
de altura, medo de animais, medo de ficar sozinho etc.
• Neurose
histérica ou histeria de conversão — o conflito psíquico simboliza-se nos
sintomas corporais de modo ocasional, isto é, como crises. Por exemplo, crise
de choro com teatralidade, ou sintomas que se apresentam de modo duradouro,
como a paralisia de um membro, a úlcera etc.
Todas
as formas de manifestação da neurose têm sua origem na vida infantil, mesmo
quando se manifestam mais tarde, desencadeadas por vivências, situações
conflitivas etc. Nos dois últimos tipos apresentados, a neurose está associada
a conflitos infantis de ordem sexual.
A
esses tipos de neurose deve-se acrescentar a neurose traumática, em que
os sintomas — pensar obsessivamente no acontecimento traumatizante, ter
perturbações do sono etc. — aparecem após um choque emotivo do
indivíduo, ligado a uma experiência em que ele correu risco de vida.
Mas, mesmo nesse caso, existiria, segundo Freud, uma predisposição, isto
é, o traumatismo desencadeou uma estrutura neurótica preexistente.
Psicose
— é
o termo usado até meados do século 19 para se referir, de modo geral, à doença
mental. Para a Psicanálise, refere-se a uma perturbação intensa do indivíduo na
relação com a realidade. Na psicose, acontece uma ruptura entre o ego e a
realidade, ficando o ego sob domínio do id, isto é, dos impulsos.
Posteriormente, na evolução da doença, o ego reconstrói a realidade de acordo
com os desejos do id.
As
psicoses subdividem-se em:
• Paranóia — é
uma psicose que se caracteriza por um delírio mais ou menos sistematizado,
articulado sobre um ou vários temas. Não existe deterioração da capacidade
intelectual. Aqui se incluem os delírios de perseguição, de grandeza.
• Esquizofrenia —
caracteriza-se por: afastamento da realidade — o indivíduo entra num processo
de centramento em si mesmo, no seu mundo interior, ficando, progressivamente,
entregue às próprias fantasias. Manifesta incoerência ou desagregação do pensamento,
das ações e da afetividade. Os delírios são acentuados e mal sistematizados. A
característica fundamental da esquizofrenia é ser um quadro progressivo, que
leva a uma deterioração intelectual e afetiva.
.• Mania e
melancolia ou psicose maníaco-depressiva — caracteriza-se pela oscilação
entre o estado de extrema euforia (mania) e estados depressivos
(melancolia). Na depressão, o indivíduo pode negar-se ao contato com
o outro, não se preocupa com cuidados pessoais (higiene,
apresentação pessoal) e pode mesmo, em casos mais graves, buscar o
suicídio.
A abordagem
psicológica
A
abordagem psicológica encara os sintomas e, portanto, a doença mental, como
desorganização da personalidade. A doença instala-se na personalidade e leva a
uma alteração de sua estrutura ou a um desvio progressivo em seu
desenvolvimento. Dessa forma, as doenças mentais definem-se a partir do grau de
perturbação da personalidade, isto é, do grau de desvio do que é considerado
como comportamento padrão ou como personalidade normal. Neste caso, as psicoses
são consideradas como distúrbios da personalidade total, envolvendo o aspecto
afetivo, de pensamento, de percepção de si e do mundo. As neuroses referem-se a
distúrbios de aspectos da personalidade; por exemplo, permanecem íntegras a
capacidade de pensamento, de estabelecer relações afetivas, mas a sua relação
com o mundo encontra-se alterada, como no caso do indivíduo que tem um medo
intenso de cachorro e não consegue nem passar a mão num bichinho de pelúcia.
NORMAL E PATOLÓGICO
Nos
dois modelos explicativos anteriores — Psiquiatria clássica e abordagem
psicológica — está implícita a questão dos padrões de normalidade, isto é,
embora as duas teorias se diferenciem quanto à concepção de doença mental e
suas causas, elas se assemelham no sentido de que ambas supõem um critério do
que é normal.
Normal e patológico: uma
discussão antiga e atual
Responder
a isso significa dizer que determinadas áreas de conhecimento científico
estabelecem padrões de comportamento ou de funcionamento do organismo sadio ou
da personalidade adaptada. Esses padrões ou normas referem-se a médias
estatísticas do que se deve esperar do organismo ou da personalidade, enquanto
funcionamento e expressão.
Essas
idéias ou critérios de avaliação constroem-se a partir do desenvolvimento
científico de uma determinada área do conhecimento e, também, a partir de dados
da cultura e do comportamento do próprio observador ou especialista, que nesse
momento avalia este indivíduo e diagnostica que ele é doente.
E
aqui surge uma complicação. O conceito de normal e patológico é extremamente
relativo. Do ponto de vista cultural, o que numa sociedade é considerado
normal, adequado, aceito ou mesmo valorizado, em outra sociedade ou em outro
momento histórico pode ser considerado anormal, desviante ou patológico.
Os
antropólogos têm contribuído enormemente para esclarecer essa questão da
relatividade cultural do conceito e do fenômeno. Por exemplo, o comportamento
homossexual, que em uma sociedade é considerado doença, em outra pode ser um
comportamento absolutamente adequado ou até mesmo valorizado. Historicamente, também
se verificam mudanças. Podemos encontrar, nos arquivos de um hospital
psiquiátrico de São Paulo, dados sobre mulheres que foram consideradas loucas
porque, na década de 50, apresentavam comportamento sexual avançado para a
época, como não preservar a virgindade até o casamento. Hoje, no final da
década de 90, dificilmente uma jovem que tiver relações sexuais antes do
casamento será considerada louca ou será internada em um hospital psiquiátrico.
A
questão da normalidade acaba por desvelar o poder que a ciência tem de, a
partir do diagnóstico fornecido por um especialista, formular o destino do
indivíduo rotulado. Isso pode significar não passar pela seleção de um emprego,
perder o pátrio poder sobre os filhos, ser internado em um hospital psiquiátrico
e, a partir disso, ter como identidade fundamental a de louco. Esse poder
atribuído à ciência e aos profissionais deve ser questionado, na medida em que
se baseia num conjunto de conhecimentos bastante polêmicos e incompletos. Além
do que, o médico ou o psicólogo, como cidadão e representante de uma cultura e
de uma sociedade, acaba por patologizar aspectos do comportamento que se
caracterizam muito mais como transgressões de condutas morais (sexuais, por
exemplo) que não são considerados desvios em outros momentos históricos ou em
outras sociedades: isso demonstra a relatividade do conceito de normal.
Outro
aspecto conhecido e bastante alardeado pelos meios de comunicação de massa é o
uso da Psiquiatria ou do rótulo de doença mental com fins políticos. O saber
científico e suas técnicas surgem, então, comprometidos com grupos que querem
manter determinada ordem social. Tranca-se no hospital psiquiátrico ou
retira-se a legitimidade do discurso do indivíduo que contesta esta ordem, transformando-o
em louco.
AS TEORIAS CRÍTICAS: ANTIPSIQUIATRIA,
PSIQUIATRIA SOCIAL
Em
oposição a essas abordagens tradicionais da doença mental, surgem aquelas que
questionam os conceitos de normalidade implícitos na teoria e, principalmente,
nas formas de tratamento da loucura. Nessa linha, surge a antipsiquiatria, como
uma negação radical da Psiquiatria tradicional ou clássica, afirmando que a
doença mental é uma construção da sociedade, isto é, que a doença mental não
existe em si, mas é uma idéia construída, uma representação para dar conta de
diferenciar, isolar determinada ordem de fenômeno que questiona a
universalidade da razão. Esse ponto de vista retoma e aprofunda a colocação de
Michel Foucault em seu livro Doença mental e Psicologia:
“a doença só tem realidade e valor de doença no interior
de uma cultura que a reconhece como tal”[3].
A
antipsiquiatria, de modo mais radical, e a Psiquiatria social denunciaram a
manipulação do saber científico, a retirada da humanidade e da dignidade do
louco, as condições perversas de tratamento e reclusão dele e, principalmente,
a concepção da loucura como fabricada pelo próprio indivíduo e no seu interior.
Com isso, levaram todos os que se dedicam a compreender e a trabalhar com os considerados
loucos a buscar, fora do indivíduo, as causas ou desencadeadores do seu
comportamento atual, isto é, buscar nas condições de trabalho, nas formas de
lazer, no sistema educacional competitivo ou mesmo na estrutura familiar ou na
insegurança da violência urbana, os fatores desencadeadores ou determinantes do
sofrimento imenso do indivíduo ou de sua doença.
A
Psiquiatria social ou a Psiquiatria alternativa, embora questionem as
abordagens clássicas da doença mental, não negam que a doença exista. F.
Basaglia afirma:
“Eu penso que a loucura, como todas as doenças, são
expressões das contradições do nosso corpo, e dizendo corpo, digo corpo
orgânico e social. É nesse sentido que direi que a doença, sendo uma
contradição que se verifica no ambiente social, não é um produto apenas da
sociedade, mas uma interação dos níveis nos quais nos compomos: biológico,
sociológico, psicológico”[4].
Nesta
mesma obra, Basaglia afirma que explicar a doença só do ponto de vista orgânico
ou exclusivamente do ponto de vista psicológico ou social significa uma “moda”
científica.
Na
verdade, não devemos nos esquivar do enfrentamento da questão da loucura, do
sofrimento do outro, mas, talvez, possamos começar a “ver” diferentemente. O
louco não é monstro, não é não humano, e a loucura é construída ao longo da
história de vida do indivíduo. Essas vivências ocorrem num determinado tempo
histórico e espaço social definidos. Mais ou menos como Kalina e Kovadloff em
seu livro As cerimônias da destruição analisam o suicídio: ele foi
construído durante toda a vida do indivíduo, nos seus grupos de pertencimento —
a família, a escola, o trabalho etc. —, embora o ato final caracterize um momento
psicótico, isto é, o indivíduo percebe-se como outro e sem significado.
Portanto é no indivíduo e fora dele que vamos procurar as razões dessa
desrazão. E talvez seja por isso que o suicídio abale tanto as pessoas próximas
do indivíduo que cometeu o ato. É como se esse ato denunciasse o fracasso do
investimento social que foi feito nesse indivíduo, que nega de modo radical
tudo isso e aponta o fracasso de seus grupos[5].
A PROMOÇÃO DA SAÚDE
MENTAL
Falar
em doença implica pensar na cura. A cura, no caso da doença mental,
varia conforme a teoria ou o modelo explicativo usado como referencial e, desta
forma, pode ser centrada no medicamento (as drogas quimioterápicas), no
eletrochoque, na hospitalização, na psicoterapia.
Falar
em doença implica pensar, também, em prevenção. A prevenção da doença
mental significa criar estratégias para evitar o seu aparecimento. Por
analogia, seria como dar a vacina anti-sarampo para que a criança não tenha a
doença. A prevenção implica sempre ações localizadas no meio social, isto é, os
dados de uma pesquisa podem demonstrar que determinadas condições de trabalho
propiciam o aparecimento de um certo distúrbio de comportamento. Procura-se, então,
interferir naquelas condições específicas de trabalho (no barulho, por
exemplo), no sentido de evitar que outros indivíduos venham a apresentar o
mesmo distúrbio.
E
falar em saúde significa pensar em promoção da saúde mental, que implica pensar
o homem como totalidade, isto é, como ser biológico, psicológico e sociológico
e, ao mesmo tempo, em todas as condições de vida que visam propiciar-lhe
bem-estar físico, mental e social.
Nessa
perspectiva, significa pensar na pobreza, que determina condições de vida pouco
propícias à satisfação das necessidades básicas dos indivíduos, e, ao mesmo
tempo, pensar na violência urbana e no direito à segurança; no sistema
educacional, que reproduz a competitividade da nossa sociedade; na
desumanização crescente das relações humanas, que levam à “coisificação” do
outro e de nós próprios. E pensar tudo isto significa pensar na superação das
condições que desencadeiam ou determinam a loucura. Como cidadãos, é preciso compreender
que a saúde mental é, além de uma questão psicológica, uma questão política, e
que interessa a todos os que estão comprometidos com a vida.
PSICANÁLISE
SIGMUND FREUD
Sigmund
Freud (1856-1939) foi um médico vienense que alterou, radicalmente, o modo de
pensar a vida psíquica. Sua contribuição é comparável à de Karl Marx na
compreensão dos processos históricos e sociais. Freud ousou colocar os
“processos misteriosos” do psiquismo, suas “regiões obscuras”, isto é, as
fantasias, os sonhos, os esquecimentos, a interioridade do homem, como
problemas científicos. A investigação sistemática desses problemas levou Freud
à criação da Psicanálise.
O
termo psicanálise é usado para se referir a uma teoria, a um método de investigação
e a uma prática profissional. Enquanto teoria, caracteriza-se por um
conjunto de conhecimentos sistematizados sobre o funcionamento da vida
psíquica. Freud publicou uma extensa obra, durante toda a sua vida, relatando
suas descobertas e formulando leis gerais sobre a estrutura e o funcionamento
da psique humana. A Psicanálise, enquanto método de investigação, caracteriza-se
pelo método interpretativo, que busca o significado oculto daquilo que é manifesto
por meio de ações e palavras ou pelas produções imaginárias, como os sonhos, os
delírios, as associações livres, os atos falhos. A prática profissional
refere-se à forma de tratamento — a Análise — que busca o
autoconhecimento ou a cura, que ocorre através desse autoconhecimento.
Atualmente, o exercício da Psicanálise ocorre de muitas outras formas. Ou seja,
é usada como base para psicoterapias, aconselhamento, orientação; é aplicada no
trabalho com grupos, instituições. A Psicanálise também é um instrumento
importante para a análise e compreensão de fenômenos sociais relevantes: as
novas formas de sofrimento psíquico, o excesso de individualismo no mundo contemporâneo,
a exacerbação da violência etc.
Compreender
a Psicanálise significa percorrer novamente o trajeto pessoal de Freud, desde a
origem dessa ciência e durante grande parte de seu desenvolvimento. A relação
entre autor e obra torna-se mais significativa quando descobrimos que grande
parte de sua produção foi baseada em experiências pessoais, transcritas com
rigor em várias de suas obras, como A interpretação dos sonhos e A
psicopatologia da vida cotidiana, dentre outras.
Compreender a Psicanálise significa, também,
percorrer, no nível pessoal, a experiência inaugural de Freud e buscar
“descobrir” as regiões obscuras da vida psíquica, vencendo as resistências
interiores, pois se ela foi realizada por Freud, “não é uma aquisição
definitiva da humanidade, mas tem que ser realizada de novo por cada paciente e
por cada psicanalista”[6].
A GESTAÇÃO DA PSICANÁLISE
Freud formou-se em Medicina na Universidade de
Viena, em 1881, e especializou-se em Psiquiatria. Trabalhou algum tempo em um laboratório
de Fisiologia e deu aulas de Neuropatologia no instituto onde trabalhava. Por
dificuldades financeiras, não pôde dedicar-se integralmente à vida acadêmica e
de pesquisador. Começou, então, a clinicar, atendendo pessoas acometidas de
“problemas nervosos”.
Obteve, ao final da residência médica, uma bolsa de
estudo para Paris, onde trabalhou com Jean Charcot, psiquiatra francês que
tratava as histerias com hipnose. Em 1886, retornou a Viena e voltou a clinicar,
e seu principal instrumento de trabalho na eliminação dos sintomas dos
distúrbios nervosos passou a ser a sugestão hipnótica[7].
Em
Viena, o contato de Freud com Josef Breuer, médico e cientista, também foi
importante para a continuidade das investigações. Nesse sentido, o caso de uma
paciente de Breuer foi significativo. Ana O. apresentava um conjunto de
sintomas que a fazia sofrer: paralisia com contratura muscular, inibições e
dificuldades de pensamento. Esses sintomas tiveram origem na época em que ela
cuidara do pai enfermo.
No período em que cumprira essa tarefa, ela havia
tido pensamentos e afetos que se referiam a um desejo de que o pai morresse.
Estas idéias e sentimentos foram reprimidos e substituídos pelos sintomas.
Em seu estado de vigília, Ana O. não era capaz de
indicar a origem de seus sintomas, mas, sob o efeito da hipnose, relatava a
origem de cada um deles, que estavam ligados a vivências anteriores da
paciente, relacionadas com o episódio da doença do pai. Com a rememoração destas
cenas e vivências, os sintomas desapareciam. Este desaparecimento não ocorria
de forma “mágica”, mas devido à liberação das reações emotivas associadas ao
evento traumático — a doença do pai, o desejo inconsciente da morte do pai
enfermo.
Breuer denominou método catártico o
tratamento que possibilita a liberação de afetos e emoções ligadas a
acontecimentos traumáticos que não puderam ser expressos na ocasião da vivência
desagradável ou dolorosa. Esta liberação de afetos leva à eliminação dos
sintomas.
Freud, em sua Autobiografia, afirma que
desde o início de sua prática médica usara a hipnose, não só com objetivos de
sugestão, mas também para obter a história da origem dos sintomas.
Posteriormente, passou a utilizar o método catártico e, “aos poucos, foi
modificando a técnica de Breuer: abandonou a hipnose, porque nem todos os
pacientes se prestavam a ser hipnotizados; desenvolveu a técnica de
‘concentração’, na qual a rememoração sistemática era feita por meio da conversação
normal; e por fim, acatando a sugestão (de uma jovem) anônima, abandonou as
perguntas ‘— e com elas a direção da sessão — para se confiar por completo à
fala desordenada do paciente”[8].
A DESCOBERTA DO INCONSCIENTE
“Qual poderia ser a causa de os pacientes esquecerem tantos fatos de sua
vida interior e exterior...?”[9],
perguntava-se Freud. O esquecido era sempre algo penoso para o indivíduo, e era
exatamente por isso que havia sido esquecido e o penoso não significava,
necessariamente, sempre algo ruim, mas podia se referir a algo bom que se
perdera ou que fora intensamente desejado. Quando Freud abandonou as perguntas
no trabalho terapêutico com os pacientes e os deixou dar livre curso às suas
idéias, observou que, muitas vezes, eles ficavam embaraçados, envergonhados com
algumas idéias ou imagens que lhes ocorriam. A esta força psíquica que se
opunha a tornar consciente, a revelar um pensamento, Freud denominou resistência.
E chamou de repressão o processo psíquico que visa encobrir, fazer desaparecer
da consciência, uma idéia ou representação insuportável e dolorosa que está na
origem do sintoma. Estes conteúdos psíquicos “localizam-se” no inconsciente.
Tais descobertas “(...) constituíram a base
principal da compreensão das neuroses e impuseram uma modificação do trabalho
terapêutico. Seu objetivo (...) era descobrir as repressões e suprimi-las
através de um juízo que aceitasse ou condenasse definitivamente o excluído pela
repressão. Considerando este novo estado de coisas, dei ao método de investigação
e cura resultante o nome de psicanálise em substituição ao de catártico”[10].
A primeira teoria sobre a estrutura do aparelho psíquico
Em 1900, no livro A interpretação dos sonhos, Freud
apresenta a primeira concepção sobre a estrutura e o funcionamento da personalidade.
Essa teoria refere-se à existência de três sistemas ou instâncias psíquicas:
inconsciente, pré-consciente e consciente.
• O inconsciente exprime o “conjunto dos conteúdos não presentes
no campo atual da consciência”[11].
É constituído por conteúdos reprimidos, que não têm acesso aos sistemas
pré-consciente/consciente, pela ação de censuras internas. Estes conteúdos
podem ter sido conscientes, em algum momento, e terem sido reprimidos, isto é,
“foram” para o inconsciente, ou podem ser genuinamente inconscientes. O inconsciente
é um sistema do aparelho psíquico regido por leis próprias de funcionamento.
Por exemplo, é atemporal, não existem as noções de passado e presente.
• O pré-consciente refere-se ao sistema onde permanecem aqueles
conteúdos acessíveis à consciência. É aquilo que não está na consciência, neste
momento, e no momento seguinte pode estar.
• O consciente é o sistema do aparelho psíquico que recebe ao mesmo
tempo as informações do mundo exterior e as do mundo interior. Na consciência,
destaca-se o fenômeno da percepção, principalmente a percepção do mundo
exterior, a atenção, o raciocínio.
Antes de prosseguir vejamos alguns conceitos importantes para
entendermos a teoria criada por Sigmund Freud
1. O funcionamento psíquico é
concebido a partir de três pontos de vista: o econômico (existe uma
quantidade de energia que “alimenta” os processos psíquicos), o tópico (o
aparelho psíquico é constituído de um número de sistemas que são diferenciados
quanto a sua natureza e modo de funcionamento, o que permite considerá-lo como
“lugar” psíquico) e o dinâmico (no interior do psiquismo existem forças
que entram em conflito e estão, permanentemente, ativas. A origem dessas forças
é a pulsão). Compreender os processos e fenômenos psíquicos é considerar os
três pontos de vista simultaneamente.
2. A pulsão refere-se a um estado de tensão que
busca, através de um objeto, a supressão deste estado. Eros é a pulsão
de vida e abrange as pulsões sexuais e as de autoconservação. Tanatos é
a pulsão de morte, pode ser autodestrutiva ou estar dirigida para fora e se manifestar
como pulsão agressiva ou destrutiva.
3. Sintoma, na teoria psicanalítica, é uma produção — quer seja
um comportamento, quer seja um pensamento — resultante de um conflito psíquico
entre o desejo e os mecanismos de defesa. O sintoma, ao mesmo tempo que
sinaliza, busca encobrir um conflito, substituir a satisfação do desejo. Ele é
ou pode ser o ponto de partida da investigação psicanalítica na tentativa de
descobrir os processos psíquicos encobertos que determinam sua formação. Os
sintomas de Ana O. eram a paralisia e os distúrbios do pensamento; hoje, o sintoma
da colega da sala de aula é recusar-se a comer.
A segunda teoria do aparelho psíquico
Entre 1920 e 1923, Freud remodela a teoria do
aparelho psíquico e introduz os conceitos de id, ego e superego para
referir-se aos três sistemas da personalidade.
O id constitui o reservatório da energia
psíquica, é onde se “localizam” as pulsões: a de vida e a de morte. As características
atribuídas ao sistema inconsciente, na primeira teoria, são, nesta teoria, atribuídas
ao id. É regido pelo princípio do prazer.
O ego é o sistema que estabelece o
equilíbrio entre as exigências do id, as exigências da realidade e as “ordens”
do superego. Procura “dar conta” dos interesses da pessoa. É regido pelo
princípio da realidade, que, com o princípio do prazer, rege o funcionamento
psíquico. É um regulador, na medida em que altera o princípio do prazer para
buscar a satisfação considerando as condições objetivas da realidade. Neste sentido,
a busca do prazer pode ser substituída pelo evitamento do desprazer. As funções
básicas do ego são: percepção, memória, sentimentos, pensamento.
O superego origina-se com o complexo de
Édipo, a partir da internalização das proibições, dos limites e da autoridade.
A moral, os ideais são funções do superego. O conteúdo do superego refere-se a exigências
sociais e culturais.
Para compreender a constituição desta instância — o
superego — é necessário introduzir a idéia de sentimento de culpa. Neste
estado, o indivíduo sente-se culpado por alguma coisa errada que fez — o que parece
óbvio — ou que não fez e desejou ter feito, alguma coisa considerada má pelo
ego mas não, necessariamente, perigosa ou prejudicial; pode, pelo contrário,
ter sido muito desejada. Por que, então, é considerada má? Porque alguém
importante para ele, como o pai, por exemplo, pode puni-lo por isso. E a
principal punição é a perda do amor e do cuidado desta figura de autoridade.
Portanto, por medo dessa perda, deve-se evitar
fazer ou desejar fazer a coisa má; mas, o desejo continua e, por isso, existe a
culpa. Uma mudança importante acontece quando esta autoridade externa é
internalizada pelo indivíduo. Ninguém mais precisa lhe dizer “não”. É como se
ele “ouvisse” esta proibição dentro de si. Agora, não importa mais a ação para
sentir-se culpado: o pensamento, o desejo de fazer algo mau se encarregam
disso. E não há como esconder de si mesmo esse desejo pelo proibido. Com
isso, o mal-estar instala-se definitivamente no interior do indivíduo. A função
de autoridade sobre o indivíduo será realizada permanentemente pelo superego.
E importante considerar que estes sistemas não
existem enquanto uma estrutura vazia, mas são sempre habitados pelo conjunto de
experiências pessoais e particulares de cada um, que se constitui como sujeito
em sua relação com o outro e em determinadas circunstâncias sociais. Isto
significa que, para compreender alguém, é necessário resgatar sua história
pessoal, que está ligada à história de seus grupos e da sociedade em que vive.
Os mecanismos de defesa, ou a realidade como ela não é
A percepção de um acontecimento, do mundo externo
ou do mundo interno, pode ser algo muito constrangedor, doloroso, desorganizador.
Para evitar este desprazer, a pessoa “deforma” ou suprime a realidade — deixa
de registrar percepções externas, afasta determinados conteúdos psíquicos,
interfere no pensamento.
São vários os mecanismos que o indivíduo pode usar
para realizar esta deformação da realidade, chamados de mecanismos de
defesa. São processos realizados pelo ego e são inconscientes, isto é,
ocorrem independentemente da vontade do indivíduo.
Para Freud, defesa é a operação pela qual o ego
exclui da consciência os conteúdos indesejáveis, protegendo, desta forma, o aparelho
psíquico. O ego — uma instância a serviço da realidade externa e sede dos
processos defensivos — mobiliza estes mecanismos, que suprimem ou dissimulam a
percepção do perigo interno, em função de perigos reais ou imaginários
localizados no mundo exterior. Estes mecanismos são:
• Recalque: o indivíduo “não vê”, “não ouve” o que ocorre. Existe
a supressão de uma parte da realidade. Este aspecto que não é percebido pelo
indivíduo faz parte de um todo e, ao ficar invisível, altera, deforma o sentido
do todo. E como se, ao ler esta página, uma palavra ou uma das linhas
não estivesse impressa, e isto impedisse a compreensão da frase ou desse outro
sentido ao que está escrito. Um exemplo é quando entendemos uma proibição como permissão
porque não “ouvimos” o “não”. O recalque, ao suprimir a percepção do que está
acontecendo, é o mais radical dos mecanismos de defesa. Os demais referem-se a
deformações da realidade.
• Formação reativa: o ego procura afastar o desejo que vai em determinada
direção, e, para isto, o indivíduo adota uma atitude oposta a este desejo. Um
bom exemplo são as atitudes exageradas — ternura excessiva, superproteção — que
escondem o seu oposto, no caso, um desejo agressivo intenso. Aquilo que aparece
(a atitude) visa esconder do próprio indivíduo suas verdadeiras motivações (o
desejo), para preservá-lo de uma descoberta acerca de si mesmo que poderia ser bastante
dolorosa. É o caso da mãe que superprotege o filho, do qual tem muita raiva
porque atribui a ele muitas de suas dificuldades pessoais. Para muitas destas
mães, pode ser aterrador admitir essa agressividade em relação ao filho.
• Regressão: o indivíduo retorna a etapas anteriores de seu desenvolvimento;
é uma passagem para modos de expressão mais primitivos. Um exemplo é o da
pessoa que enfrenta situações difíceis com bastante ponderação e, ao ver uma
barata, sobe na mesa, aos berros. Com certeza, não é só a barata que ela vê na
barata.
• Projeção: é uma confluência de distorções do mundo externo e
interno. O indivíduo localiza (projeta) algo de si no mundo externo e não percebe
aquilo que foi projetado como algo seu que considera indesejável. É um
mecanismo de uso freqüente e observável na vida cotidiana. Um exemplo é o jovem
que critica os colegas por serem extremamente competitivos e não se dá conta de
que também o é, às vezes até mais que os colegas.
• Racionalização: o indivíduo constrói uma argumentação intelectualmente
convincente e aceitável, que justifica os estados “deformados” da consciência.
Isto é, uma defesa que justifica as outras. Portanto, na racionalização, o ego
coloca a razão a serviço do irracional e utiliza para isto o material fornecido
pela cultura, ou mesmo pelo saber científico. Dois exemplos: o pudor excessivo (formação
reativa), justificado com argumentos morais; e as justificativas ideológicas
para os impulsos destrutivos que eclodem na guerra, no preconceito e na defesa
da pena de morte.
Além destes mecanismos de defesa do ego, existem
outros: denegação, identificação, isolamento, anulação retroativa, inversão e retorno
sobre si mesmo. Todos nós os utilizamos em nossa vida cotidiana, isto é,
deformamos a realidade para nos defender de perigos internos ou externos, reais
ou imaginários. O uso destes mecanismos não é, em si, patológico, contudo
distorce a realidade, e só o seu desvendamento pode nos fazer superar essa
falsa consciência, ou melhor, ver a realidade como ela é.
BEHAVIORISMO
O ESTUDO DO COMPORTAMENTO
O termo Behaviorismo foi inaugurado pelo americano
John B.Watson, em artigo publicado em 1913, que apresentava o título “Psicologia:
como os behavioristas a vêem”. O termo inglês behavior significa
“comportamento”; por isso, para denominar essa tendência teórica, usamos
Behaviorismo — e, também, Comportamentalismo, Teoria Comportamental, Análise
Experimental do Comportamento, Análise do Comportamento.
Watson, postulando o comportamento como objeto da
Psicologia, dava a esta ciência a consistência que os psicólogos da época
vinham buscando — um objeto observável, mensurável, cujos experimentos poderiam
ser reproduzidos em diferentes condições e sujeitos. Essas características
foram importantes para que a Psicologia alcançasse o status de ciência,
rompendo definitivamente com a sua tradição filosófica. Watson também defendia
uma perspectiva funcionalista para a Psicologia, isto é, o comportamento
deveria ser estudado como função de certas variáveis do meio. Certos estímulos
levam o organismo a dar determinadas respostas e isso ocorre porque os
organismos se ajustam aos seus ambientes por meio de equipamentos hereditários
e pela formação de hábitos. Watson buscava a construção de uma Psicologia sem
alma e sem mente, livre de conceitos mentalistas e de métodos subjetivos, e que
tivesse a capacidade de prever e controlar.
Apesar de colocar o “comportamento” como objeto da
Psicologia, o
Behaviorismo foi desde Watson, modificando o sentido desse termo. Hoje,
não se entende comportamento como uma ação isolada de um sujeito, mas, sim,
como uma interação entre aquilo que o sujeito faz e o ambiente onde o seu
“fazer” acontece. Portanto, o Behaviorismo dedica-se ao estudo das interações
entre o indivíduo e o ambiente, entre as ações do indivíduo (suas respostas) e
o ambiente (as estimulações). Os psicólogos desta abordagem chegaram aos termos
“resposta” e
“estímulo” para se referirem àquilo que o organismo faz e às variáveis ambientais
que interagem com o sujeito.
A ANÁLISE EXPERIMENTAL DO COMPORTAMENTO
O mais importante dos behavioristas que sucedem
Watson é B. F.Skinner (1904-1990).O Behaviorismo de Skinner tem influenciado
muitos psicólogos americanos e de vários países onde a Psicologia americana tem
grande penetração, como o Brasil. Esta linha de estudo ficou conhecida por Behaviorismo
radical, termo cunhado pelo próprio Skinner, em 1945,para designar uma
filosofia da Ciência do Comportamento (que ele se propôs defender) por meio da
análise experimental do comportamento.
A base da corrente skinneriana está na formulação
do comportamento operante. Para desenvolver este conceito, retrocederemos
um pouco na história do Behaviorismo, introduzindo as noções de comportamento
reflexo ou respondente, para então chegarmos ao comportamento operante. Vamos
lá.
O COMPORTAMENTO RESPONDENTE
O comportamento reflexo ou respondente é o que usualmente
chamamos de “não-voluntário” e inclui as respostas que são eliciadas
(“produzidas”) por estímulos antecedentes do ambiente. Como exemplo, podemos
citar a contração das pupilas quando uma luz forte incide sobre os olhos, a
salivação provocada por uma gota de limão colocada na ponta da língua, o
arrepio da pele quando um ar frio nos atinge, as famosas “lágrimas de cebola”
etc.
Esses comportamentos reflexos ou respondentes são
interações estímulo-resposta (ambiente-sujeito) incondicionadas, nas quais certos
eventos ambientais confiavelmente eliciam certas respostas do organismo que
independem de “aprendizagem”.
Mas interações desse tipo também podem ser
provocadas por estímulos que, originalmente, não eliciavam respostas em
determinado organismo. Quando tais estímulos são temporalmente pareados com
estímulos eliciadores podem, em certas condições, eliciar respostas semelhantes
às destes.
A essas novas interações chamamos também de reflexos,
que agora são condicionados devido a uma história de pareamento, o qual levou o
organismo a responder a estímulos que antes não respondia. Para deixar isso
mais claro, vamos a um exemplo: suponha que, numa sala aquecida, sua mão
direita seja mergulhada numa vasilha de água gelada. A temperatura da mão cairá
rapidamente devido ao encolhimento ou constrição dos vasos sangüíneos,
caracterizando o comportamento como respondente. Esse comportamento será
acompanhado de uma modificação semelhante, e mais facilmente mensurável, na mão
esquerda, onde a constrição vascular também será induzida.
Suponha, agora, que a sua mão direita seja
mergulhada na água gelada um certo número de vezes, em intervalos de três ou
quatro minutos, e que você ouça uma campainha pouco antes de cada imersão. Lá
pelo vigésimo pareamento do som da campainha com a água fria, a mudança de temperatura
nas mãos poderá ser eliciada apenas pelo som, isto é, sem necessidade de
imergir uma das mãos[12].
Neste exemplo de condicionamento respondente, a
queda da temperatura da mão, eliciada pela água fria, é uma resposta incondicionada,
enquanto a queda da temperatura, eliciada pelo som, é uma resposta condicionada
(aprendida): a água é um estímulo incondicionado, e o som, um estímulo
condicionado.
No início dos anos 30, na Universidade de Harvard
(Estados Unidos), Skinner começou o estudo do comportamento justamente pelo comportamento
respondente, que se tornara a unidade básica de análise, ou seja, o fundamento para
a descrição das interações indivíduoambiente.
O desenvolvimento de seu trabalho levou-o a
teorizar sobre um outro tipo de relação do indivíduo com seu ambiente, a qual
viria a ser nova unidade de análise de sua ciência: o comportamento operante.
Esse tipo de comportamento caracteriza a maioria de nossas interações com o
ambiente.
O COMPORTAMENTO OPERANTE
O comportamento operante abrange um leque amplo da
atividade humana — dos comportamentos do bebê de balbuciar, de agarrar objetos
e de olhar os enfeites do berço aos mais sofisticados, apresentados pelo
adulto. Como nos diz Keller, o comportamento operante “inclui todos os movimentos
de um organismo dos quais se possa dizer que, em algum momento, têm efeito
sobre ou fazem algo ao mundo em redor. O comportamento operante opera sobre o
mundo, por assim dizer, quer direta, quer indiretamente”[13].
A leitura que você está fazendo deste texto é um
exemplo de comportamento operante, assim como escrever uma carta, chamar o táxi
com um gesto de mão, tocar um instrumento etc.
Para exemplificarmos melhor os conceitos
apresentados até aqui, vamos relembrar um conhecido experimento feito com ratos
de laboratório. Vale informar que animais como ratos, pombos e macacos — para
citar alguns — foram utilizados pelos analistas experimentais do comportamento
(inclusive Skinner) para verificar como as variações no ambiente interferiam
nos comportamentos. Tais experimentos permitiram-lhes fazer afirmações sobre o
que chamaram de leis comportamentais.
Um ratinho, ao sentir sede em seu habitat, certamente
manifesta algum comportamento que lhe permita satisfazer a sua necessidade orgânica.
Esse comportamento foi aprendido por ele e se mantém pelo efeito proporcionado:
saciar a sede. Assim, se deixarmos um ratinho privado de água durante 24 horas,
ele certamente apresentará o comportamento de beber água no momento em que
tiver sede. Sabendo disso, os pesquisadores da época decidiram simular esta
situação em laboratório sob condições especiais de controle, o que os levou à formulação
de uma lei comportamental.
Um ratinho foi colocado na “caixa de Skinner” — um
recipiente fechado no qual encontrava apenas uma barra. Esta barra, ao ser pressionada
por ele, acionava um mecanismo (camuflado) que lhe permitia obter uma gotinha de
água, que chegava à caixa por meio de uma pequena haste.
Que resposta esperava-se do ratinho? — Que
pressionasse a barra. Como isso ocorreu pela primeira vez? — Por acaso. Durante
a exploração da caixa, o ratinho pressionou a barra acidentalmente, o que lhe
trouxe, pela primeira vez, uma gotinha de água, que, devido à sede, fora
rapidamente consumida. Por ter obtido água ao encostar na barra quando sentia
sede, constatou-se a alta probabilidade de que, estando em situação semelhante,
o ratinho a pressionasse novamente.
Neste caso de comportamento operante, o que
propicia a aprendizagem dos comportamentos é a ação do organismo sobre o meio e
o efeito dela resultante — a satisfação de alguma necessidade, ou seja, a
aprendizagem está na relação entre uma ação e seu efeito.
Este comportamento operante pode ser representado
da seguinte maneira: R —► S, em que R é a resposta
(pressionar a barra) e S (do inglês stimuli) o estímulo
reforçador (a água), que tanto interessa ao organismo; a flecha significa
“levar a”.
Esse estímulo reforçador é chamado de reforço.
O termo “estímulo” foi mantido da relação R-S do comportamento respondente para
designar-lhe a responsabilidade pela ação, apesar de ela ocorrer após a
manifestação do comportamento. O comportamento operante refere-se à interação
sujeito-ambiente. Nessa interação, chama-se de relação fundamental à
relação entre a ação do indivíduo (a emissão da resposta) e as conseqüências. É
considerada fundamental porque o organismo se comporta (emitindo esta ou aquela
resposta), sua ação produz uma alteração ambiental (uma conseqüência) que, por
sua vez, retroage sobre o sujeito, alterando a probabilidade futura de ocorrência.
Assim, agimos ou operamos sobre o mundo em função das conseqüências criadas
pela nossa ação. As conseqüências da resposta são as variáveis de controle mais
relevantes.
Pense no aprendizado de um instrumento: nós o
tocamos para ouvir seu som harmonioso. Há outros exemplos: podemos dançar para estar
próximo do corpo do outro, mexer com uma garota para receber seu olhar, abrir
uma janela para entrar a luz etc.
REFORÇAMENTO
Chamamos de reforço a toda conseqüência que,
seguindo uma resposta, altera a probabilidade futura de ocorrência dessa
resposta. O reforço pode ser positivo ou negativo.
O reforço positivo é todo evento que aumenta a probabilidade futura
da resposta que o produz.
O reforço negativo é todo evento que aumenta a probabilidade futura
da resposta que o remove ou atenua.
Assim, poderíamos voltar à nossa “caixa de Skinner”
que, no experimento anterior, oferecia uma gota de água ao ratinho sempre que encostasse
na barra. Agora, ao ser colocado na caixa, ele recebe choques do assoalho. Após
várias tentativas de evitar os choques, o ratinho chega à barra e, ao
pressioná-la acidentalmente, os choques cessam. Com isso, as respostas de
pressão à barra tenderão a aumentar de freqüência. Chama-se de reforçamento
negativo ao processo de fortalecimento dessa classe de respostas (pressão à
barra), isto é, a remoção de um estímulo aversivo controla a emissão da
resposta. É condicionamento por se tratar de aprendizagem, e também
reforçamento, porque um comportamento é apresentado e aumentado em sua freqüência
ao alcançar o efeito desejado.
O reforçamento positivo oferece alguma coisa ao
organismo (gotas de água com a pressão da barra, por exemplo); o negativo
permite a retirada de algo indesejável (os choques do último exemplo). Não se
pode, a priori, definir um evento como reforçador. A função reforçadora
de um evento ambiental qualquer só é definida por sua função sobre o
comportamento do indivíduo.
O ENCONTRO SOCIAL
Psicologia social é a área da Psicologia que procura estudar a interação social. E assim
que Aroldo Rodrigues, psicólogo brasileiro, define essa área. Diz ele que a
Psicologia social é o estudo das “manifestações comportamentais suscitadas pela
interação de uma pessoa com outras pessoas, ou pela mera expectativa de tal
interação”[14].
A interação social, a interdependência entre os
indivíduos, o encontro social são os objetos investigados por essa área da
Psicologia. Assim, vamos falar dos principais conceitos da Psicologia social a
partir do ponto de vista do encontro social.
Dessa perspectiva, os principais conceitos são: a
percepção social; a comunicação; as atitudes; a mudança de atitudes; o processo
de socialização; os grupos sociais e os papéis sociais.
PERCEPÇÃO SOCIAL
Nós, autores deste livro, encontramo-nos com você.
Essa é nossa suposição e nosso ponto de partida. O primeiro processo
desencadeado é o da percepção social. Percebemo-nos um ao outro. E
percebemos não só a presença do outro, mas o conjunto de características que apresenta,
o que nos possibilita “ter uma impressão” dele.
Essa impressão é possível porque, a partir de
nossos contatos com o mundo, vamos organizando estas informações em nossa
cognição (organização do conhecimento no nível da consciência), e é esta
organização que nos permitirá compreender ou categorizar um novo fato.
Assim, se você estiver vestido de calça jeans,
camiseta, tênis e com cadernos e livros nas mãos, a sua aparência nos permitirá
percebê-lo como um estudante. E nós, com o dobro de sua idade e um estilo
semelhante de vestir, seremos categorizados como professores.
A percepção é, pois, um processo que vai desde a
recepção do estímulo pelos órgãos dos sentidos até a atribuição de significado
ao estímulo.
COMUNICAÇÃO
Quando percebemos (condição para o encontro),
podemos dizer envolve codificação (formação de um sistema de códigos) e decodificação
(a forma de procurar entender a codificação) de mensagens. Essas mensagens
permitem a troca de informações entre os indivíduos.
— Muito prazer, dizemos nós a você. Esta é a mensagem que lhe enviamos.
Para isso utilizamos o código que é comum entre nós. Você recebe esta mensagem,
decodifica-a e então tem condições de nos responder: — Eu também tenho prazer
em conhecê-los (nova mensagem, no mesmo código, e que, por sua vez, será
decodificada por nós).
A
comunicação não é constituída apenas de código verbal. Também utilizamos para a
comunicação expressões de rosto, gestos, movimentos, desenhos e sinais.
A partir deste esquema básico da comunicação:
transmissor (aquele que codifica), mensagem (transmitida utilizando um código),
receptor (aquele que decodifica), a Psicologia social estudou o processo de
interdependência e de influência entre as pessoas que se comunicam, respondendo
a questões do tipo: como se dá a influência, quais as características da
mensagem, como aumentar nosso poder de persuasão através da comunicação e quais
os processos psicológicos envolvidos na comunicação?
ATITUDE
A partir da
percepção do meio social e dos outros, o indivíduo vai organizando estas
informações, relacionando-as com afetos (positivos ou negativos) e
desenvolvendo uma predisposição para agir (favorável ou desfavoravelmente) em
relação às pessoas e aos objetos presentes no meio social. A essas informações
com forte carga afetiva, que predispõem o indivíduo para uma determinada ação
(comportamento), damos o nome de atitudes.
As atitudes possibilitam-nos uma certa regularidade
na relação com o meio. Temos atitudes positivas em relação a determinados objetos
ou pessoas, o que nos predispõe a uma ação favorável em relação a eles. Isto
porque os componentes da atitude — informações, afeto e predisposição para a
ação — tendem a ser congruentes.
MUDANÇA DE ATITUDES
Nossas atitudes podem ser modificadas a partir de
novas informações, novos afetos ou novos comportamentos ou situações. Assim,
podemos mudar nossa atitude em relação a um determinado objeto porque
descobrimos que ele faz bem à saúde ou nos ajuda de alguma forma.
Podemos ainda mudar uma atitude quando somos
obrigados a nos comportar em desacordo com ela. Exemplo: você não gosta dos
rapazes que moram no seu prédio (atitude negativa), mas será obrigado a conviver
com eles, porque passaram a estudar na mesma classe. Para evitar uma tensão
constante, que o levaria a um conflito, você tentará descobrir aspectos
positivos neles (como o fato de serem bons alunos ou muito requisitados pelas
garotas), que permitam uma aproximação e a mudança de atitude (atitude
positiva).
Existe uma forte tendência a manter os componentes
das atitudes em consonância. Informações positivas sobre os rapazes, por
exemplo, levarão a afeto positivo. Informação positiva e afeto positivo levam a
um comportamento favorável na direção do objeto.
PROCESSO DE SOCIALIZAÇÃO
Vimos que nossas atitudes são importantes, pois, em
certo sentido, são elas que norteiam nosso comportamento. Ainda há a influência
dos motivos, interesses e necessidades com que nos apresentamos na situação.
Este conjunto de aspectos psicológicos permite-nos compreender, atribuir
significado e responder ao outro.
E você deve estar então se perguntando: “De onde
vem este conjunto de aspectos tão importantes?”.
A formação do conjunto de nossas crenças, valores e
significações dá-se no processo que a Psicologia social denominou socialização.
Nesse processo, o indivíduo torna-se membro de um determinado conjunto social,
aprendendo seus códigos, suas normas e regras básicas de relacionamento,
apropriando-se do conjunto de conhecimentos já sistematizados e acumulados por
esse conjunto.
GRUPOS SOCIAIS
Claro que existem as organizações ou elementos que
servem de intermediários entre o conjunto social mais amplo e o indivíduo. Essa
intermediação é feita pelos grupos sociais. Assim, quando se dá esse
nosso encontro, poderíamos dizer que estão-se encontrando representantes de
diferentes grupos sociais: você, representando sua família, seus grupos de
amigos, seu grupo racial, seu grupo religioso etc. e, de outro lado, nós, representando
nossos grupos de pertencimento ou de referência, que são aqueles a que
pertencemos ou em que nos referenciamos para saber como nos comportar, o que
dizer, como perceber o outro, do que gostar ou não gostar.
Os grupos sociais são pequenas organizações de
indivíduos que, possuindo objetivos comuns, desenvolvem ações na direção desses
objetivos. Para garantir essa organização, possuem normas; formas de pressionar
seus integrantes para que se conformem às normas; um funcionamento determinado,
com tarefas e funções distribuídas entre seus membros; formas de cooperação e
de competição; apresentam aspectos que atraem os indivíduos, impedindo que
abandonem o grupo.
PAPÉIS SOCIAIS
E para terminarmos esse nosso encontro social
precisamos falar um pouco ainda dos papéis sociais. Entendida a
sociedade como um conjunto de posições sociais (como a posição de médico, de
professor, de aluno, de filho, de pai), todas as expectativas de comportamento
estabelecidas pelo conjunto social para os ocupantes das diferentes posições
sociais determinam o chamado papel prescrito. Assim, sabemos o que
esperar de alguém que ocupa uma determinada posição.
Portanto,
no nosso encontro, ao sabermos que você é um estudante, saberemos também alguns
comportamentos que deveremos esperar de você, e, por sua vez, você saberá o que
esperar de nós, professores.
Todos os comportamentos que manifestamos no nosso
encontro são chamados, na Psicologia social, de papel desempenhado. Tais
comportamentos, por sua vez, podem ou não estar de acordo com a prescrição
social, isto é, as normas prescritas socialmente para o desempenho de um
determinado papel.
Os papéis sociais permitem-nos compreender a
situação social, pois são referências para a nossa percepção do outro, ao mesmo
tempo que são referências para o nosso próprio comportamento. Se no encontro
social nos apresentamos como ocupantes da posição de professores ou autores de
um livro, sabemos como nos comportar, porque aprendemos, no decorrer de nossa
socialização, o que está prescrito para os ocupantes dessas posições. Se formos
convidados a proferir uma palestra na sua escola, não iremos vestidos como se estivéssemos
indo para o clube. E aqui vale a pena ressaltar que, quando aprendemos um papel
social, aprendemos também o papel complementar, isto é, quando aprendemos a nos
comportar como alunos, desde o início de nossa vida escolar, estamos também
aprendendo o papel do outro com quem interagimos — o papel do professor.
Os diferentes papéis sociais e a nossa enorme
plasticidade como seres humanos permitem que nos adaptemos às diferentes
situações sociais e que sejamos capazes de nos comportar diferentemente em cada
uma delas. Aprender os nossos papéis sociais é, na realidade, aprender o
conjunto de rituais que nossa sociedade criou.
Cada encontro social, cada momento de comunicação e
interação entre as pessoas são sempre momentos de nosso processo de
socialização, que é ininterrupto no decorrer de nossas vidas.
(RESUMO DO LIVRO: PSICOLOGIAS: UMA INTRODUÇÃO AO
ESTUDO DE PSICOLOGIA – Ana Maria Bock, Odair Furtado e Maria de Lurdes Teixeira. 13. Ed. São Paulo: Saraiva, 1999.)
[1] Texto redigido a
partir de Constituição histórica do conceito de doença mental em Michel
Foucault, de
Laura Fraga de
Almeida Sampaio — filósofa e estudiosa de M. Foucault. Mimeografado, 1998.
Muitas
alternativas para tratar a dor psíquica foram experimentadas ao longo da
história.
As pessoas podem
ser criativas — e mesmo geniais — em momentos de intenso sofrimento psíquico.
[4] Franco Basaglia.
A Psiquiatria alternativa. p. 79.
[5] Cf. Eduardo
Kalina e Santiago Kovadloff. As cerimônias da destruição.
[7] O médico induz o paciente a um estado alterado da
consciência e, nesta condição, investiga a ou as
conexões entre condutas e/ou entre fatos e condutas que podem ter
determinado o surgimento de um
sintoma. O médico também introduz novas idéias (a sugestão) que podem,
pelo menos temporariamente,
provocar o desaparecimento do sintoma.
[8] R. Mezan. Op. cit. p. 52.
[9] S.
Freud. Autobiografia. In: Obras completas. Ensayos XCVIII AL CCIII.
Madri, Biblioteca Nueva.T.
III. p. 2773 (Trecho trad. autores).
[10] Id. ibid. p. 2774.
[11] J. Laplanche e J.-B. Pontalis. Op. cit. p. 306.
[13] F. S. Keller. Op. cit. p. 10.Tocar um instrumento é um exemplo de um
comportamento operante que tem efeito sobre o mundo
[14] Aroldo Rodrigues, Psicologia social, p. 3.
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